O trabalho de Rafael França é reconhecido como uma das obras mais coerentes e sistemáticas entre os artistas brasileiros que trabalham com a imagem em movimento. Deixando de lado o uso do vídeo como simples registro documental, sua obra deu continuidade (e levou ainda além) as experimentações feitas pelos pioneiros da vídeo arte dos anos 60. A narrativa de seus vídeos, elípticas e descontínuas, exploravam elementos como a ausência de sincronia entre som e imagem, alternância entre cortes rápidos e lentos e imagens propositalmente embaçadas e fora de foco. Ao tornar seus amigos, bem como a si mesmo, em personagens dos seus vídeos, Rafael França expandiu também os limites de uma narrativa fictícia/documental.
Depois de estudar desenho, pintura e litografia na adolescência, Rafael se mudou para São Paulo no final dos anos 70 para estudar na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, onde, encorajado pela artista e professora Regina Silveira, desenvolveu um intenso trabalho de gravura. Em 1979, começa a explorar a xerografia e, juntamente com Hudinilson Jr. e Mário Ramiro, formam o grupo 3Nós3, focado em intervenções urbanas. Devido ao seu interesse pela arte e tecnologia, e influenciado por artistas como Nam June Paik e Buky Schwartz, Rafael começa a trabalhar com instalações de vídeo. Em 1982, o artista ingressa em um mestrado no Chicago Art Institute (EUA), onde dedica sua pesquisa inteiramente ao vídeo e dá início à série de trabalhos que se tornariam seu principal legado. Uma pesquisa contínua e radical que questiona e explora os elementos técnicos e conceituais que constituem a própria linguagem do vídeo.
O trabalho de Rafael França foi precocemente interrompido pela AIDS em 1991. Hoje, sua obra faz parte do acervo de instituições como Museu Reina Sofia (Madrid, Espanha), Museu de Arte Contemporânea – USP (São Paulo), Museu de Arte Moderna (São Paulo), e Associação Videobrasil (São Paulo). Seu trabalho foi recentemente apresentado em importantes exposições retrospectivas como: United by AIDS (Migros Museum, Zürich, 2019), Histórias da Sexualidade (MASP São Paulo, 2018), Expo Projeção (SESC São Paulo, 2014) e Speaking Out (MoMA Nova York, 1992).