Maranhão, mar grande, mar que corre, lugar de movimento constante e de transferências culturais diversas. Nesse entrelaçado de trocas e hibridações, a sonoridade do reggae adentrou diferentes regiões do estado e a Ilha de São Luís a partir dos anos 1970. Inicialmente, por meio das ondas curtas dos rádios amadores que captavam sinais de diversas regiões das Américas, incluindo o Caribe. Em seguida com a presença de marinheiros vindos de lugares como a Guiana Francesa, que aportavam nas cidades do litoral em embarcações piratas, transportando, entre outras mercadorias, vinis de reggae que eram comercializados nos portos.
Em terras maranhenses o ritmo jamaicano sofreu variações – uma delas, na maneira de dançar. No Maranhão, o reggae se dança a dois, agarradinho: um gingado que lembra a rumba, a salsa, o merengue e o bolero. Dançar reggae a dois é mistura de pele, encontro de corpos livres que se identificam pelo ritmo que cruzou o Atlântico e fez com que São Luís recebesse a alcunha de Jamaica brasileira. Essas singularidades rítmicas e estéticas naturalmente se espraiam no campo das artes visuais, e a produção artística maranhense se entende como parte de um ecossistema amplo de possibilidades – na forma de produzir discursos e saberes, de pensar e fazer arte.
Nesse contexto, um recorte da produção contemporânea do Maranhão aporta na rua Jamaica com o desejo de estabelecer encontros entre obras caracterizadas pela imersão em temas inicialmente locais, que perpassam contextos históricos, políticos e geográficos, questões étnico-raciais e de gênero, e que convergem em diferentes aspectos conceituais e formais. O conjunto aqui exposto se articula por uma organização própria, regida pela empatia corporal entre imagens e objetos de arte. Destituídas de hierarquia, as obras – com seus tempos e fluxos diversos – se entrelaçam num compasso que entoa o pensar junto.
As ondas sonoras e rítmicas chegam por meio de fotografias, vídeos e colagens. Folhas se agitam e encontram outras plantas, cores, sons e texturas em pinturas, bordados e esculturas. A distribuição das peças contempla um modo de exibir atento à observação apurada das materialidades que carregam força, vitalidade e tornam as obras ativas, autocriativas, produtivas. Encantamento e materialismo horizontalizam o pensamento e as trocas. O supostamente periférico se apresenta como elemento central, expandindo as relações entre tempos distintos, como vias que cruzam longas distâncias e se encontram numa junção de forças canalizadas que se refreiam e partilham interesses no campo poético e formal. Uma visualidade coletiva que perpassa diversos momentos da arte brasileira.
Nesse fluxo, a mostra reúne a arte contemporânea do Maranhão, representada por artistas da Lima Galeria, de São Luís, e obras do acervo da Martins&Montero, de São Paulo, que gravitam por importantes períodos da arte brasileira e se destacam pela diversidade de linguagens e suportes. Os trabalhos de artistas maranhenses formam um conjunto exemplar, que permite o diálogo com a arte produzida no contexto brasileiro e internacional, e viabiliza o debate crítico e teórico amplificado por artistas de diferentes regiões – Alagoas, Rio Grande do Norte, Bahia, Goiás, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul – representados pela Martins&Montero, que adensam o panorama da arte no Brasil ao longo de mais de três décadas. Para isso, a exposição lança mão de aspectos geográficos e arquitetônicos suscitados pelo local em que ocorre: a galeria Martins&Montero, situada na Rua Jamaica, em uma casa dos anos 1950, que remete espontaneamente a um lugar de trânsitos, deslocamentos e, sobretudo, de encontros.
A iniciativa reforça as ações experimentais empreendidas pela Martins&Montero, assim como a trajetória da Lima Galeria, cujos desdobramentos incluem a participação em projetos em rede a partir do Maranhão. Soma-se a isso, importantes atividades já desempenhadas pela curadoria por meio de processos formativos, laboratórios e pesquisas, com o intuito de fomentar diálogos entre a produção artística e cultural do Maranhão, em diversos contextos, e outras produções, localidades e instituições formais e não formais. Assim, Maranhão na Jamaica se apresenta como uma extensão de escutas, colaborações, deslocamentos e resistências: um dançar junto na busca por outros pares, elaborar novos passos, movimentos compassados, encontros e celebrações.
ARTISTAS
3NÓS3
Ana Mazzei
Beto Matuck
Carchíris
Dalton Paula
Davi Rodrigues
Dinho Araújo
Gê Viana
Hiram Latorre
Ingrid Barros
Jandir Gonçalves
João Loureiro
Joelington Rios
Jota Mombaça
Juraci Dórea
Lia D Castro
Marcio Vasconcelos
Marcone Moreira
Martha Araújo
Michel Zózimo
Pablo Monteiro
Philipp Modersohn/ LABINAC
Ramusyo Brasil
Regina Vater
Silvana Mendes
Tassila Custodes
Tiyê Macau
Thiago Martins de Melo
Zimar
Óleo sobre fibra de vidro resinado, poliuretano e dois monitores de tv de 22” com animação stop motion
245 x 197 x 70 cm
Colagem digital impressa sobre papel de algodão fosco Hahnemühle Photo Rag 308 gsm
120 x 110 cm
Edição de 8 + 2 PA
Impressão sobre papel de algodão Hahnemühle Photo Rag 308 gsm
60 x 90 cm
Edição de 7 + 2 PA
Impressão jato de tinta sobre papel de algodão Hahnemühle Photo Rag 308 g/m2
60 x 90 cm
Edição de 3 + 1 PA (#1/3)
Impressão fotográfica
Edição: 1/5
18,5 x 26 cm