João Loureiro

Catete, 2015

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Na manhã de 24 de agosto de 1954, o presidente do Brasil Getúlio Vargas cometeu suicídio no Palácio do Catete, sede do governo e residência presidencial. Ele estava de pijama quando deu um tiro no coração.

O pijama que Getúlio usava quando se matou tornou-se parte do acervo do Museu da República, no mesmo Palácio do Catete, e fica exposto numa vitrine no quarto de dormir, junto com a arma e a bala usadas no suicídio. Nele são visíveis o furo da bala, manchas de sangue e marcas dos cortes feitos para retirar o pijama do corpo já enrijecido. Apenas a camisa do pijama fica exposta, já que a calça foi enterrada com o presidente.

Ao ser convidado a participar de uma exposição vinculada à feira ArtRio, em setembro de 2015, cuja proposta era a apresentação de trabalhos de grande escala nos jardins do Museu da República, iniciei pesquisa sobre a história do museu e o seu acervo. Decidi tomar o icônico pijama, objeto que corporifica um ponto de inflexão na história moderna do país, como matéria para o projeto.

A proposta de Catete é produzir e comercializar, em parceria com uma confecção de pijamas, uma versão do pijama usado por Getúlio Vargas no momento do seu suicídio. Composta por calça e camisa, a versão se baseia no estado do pijama antes da consumação do suicídio, sem as marcas de tiro, sangue e cortes.

Interessa a mim o modo como um pijama, objeto cotidiano, íntimo, privado, foi se tornando símbolo daquele momento histórico. Curioso pensar como a instituição molda, por contingência, ao longo dos anos e das diversas administrações, uma versão da história, centralizando no pijama de Getúlio Vargas a narrativa sobre os fatos ocorridos em agosto de 1954.
O gatilho para Catete foi o convite para a exposição, cuja expectativa era a produção de um trabalho de grande escala. Em Catete, a escala é entendida como a dimensão que o objeto de referência tem na história do país, e replicada no esforço de inserção da peça num circuito comercial. É a possibilidade de uso, de vestir a peça, de dormir com o trabalho e criar com ele uma relação pessoal que torna possível a problematização dos conteúdos associados a esse elemento tão representativo das peculiaridades da constituição da nossa história.

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