Um teatro mineral e silencioso.
Um espaço quase vazio, paredes brancas como se fossem o céu antes da luz. No centro, um pedestal de madeira e ferro sustenta a pequena escultura dourada, que brilha como um sol contido.
Um foco de luz quente, quase líquido, incide sobre a escultura.
Aos poucos, a iluminação se expande pelo palco em tons de laranja e rosa, como se o dia estivesse sendo inventado diante de nossos olhos.
Um murmúrio baixo e contínuo, semelhante a uma respiração subterrânea.
Lentamente, um som cristalino o sobrepõe, como gotas metálicas caindo sobre uma superfície invisível.
A figura se ajoelha diante da escultura.
Ergue as mãos vazias, como se sustentasse um sol invisível.
O som cristalino se intensifica até se tornar quase uma farpa.
Nesse instante, a luz sobre o objeto se expande, iluminando todo o palco em branco intenso.
O brilho cessa de repente.
O palco volta à penumbra.
A escultura permanece imóvel, mas agora parece maior, mais densa, como se tivesse absorvido algo do corpo da figura.
A figura desaparece lentamente de cena.
Delírio
Onde? É longe, mas iluminado por uma luz quente e dourada, semelhante à do pôr do sol. As cores mudam gradualmente: laranja, vermelho e, em seguida, violeta.
O som distante de motores ou de um movimento mecânico acompanha o ambiente.
Personagens:
Ela: corpo relaxado, mas olhar inquieto.
Ele: postura próxima e protetora, mas com uma tensão visível.
Ação:
O casal está sentado, próximos o suficiente para se tocarem, mas sem contato constante.
Os gestos são suaves: uma mão deslizando pelo braço do outro, um cabelo afastado do rosto, um leve toque de ombros.
Entre eles, porém, há silêncios que pesam.
Sem diálogo.
Ela (olhando para o horizonte): “É bonito…, mas me assusta.”
Ele (hesita, respira fundo): “Nem tudo o que termina é perda.”
Silêncio.
Ele segura a mão dela, mas ela demora um pouco para retribuir o gesto.
O pôr do sol é metáfora de um fim ou do início de uma nova fase? O público não sabe se a dúvida diz respeito ao amor, a uma decisão de vida ou simplesmente à natureza efêmera do tempo — e é essa ambiguidade que mantém a cena em aberto.
A luz vai diminuindo lentamente, restando apenas o contorno dos corpos.
Eles permanecem juntos, mas a resposta nunca é dada.
O abismo
Um espaço suspenso entre o concreto e o vazio.
Paredes de metal e madeira formam um canto silencioso.
A cor vibra entre lilás e cobre — um crepúsculo enclausurado.
A luz surge de cima, dourada, líquida.
Reflete-se no corpo da mulher reclinada, que brilha como se fosse feito de ouro derretido.
Gradualmente, o tom esfria — lilás, violeta, azul profundo.
A luz parece respirar junto ao corpo.
Um ruído baixo e contínuo, lembrando o eco de uma respiração subterrânea.
Silêncios intermitentes.
Um som de metal sendo tocado suavemente pelo vento — ou pela pele.
Uma mulher jaz sobre uma superfície rígida.
Seu corpo reluz, mas é pesado — algo entre o repouso e a queda.
Ela tenta mexer o braço; o gesto é lento, quase mineral.
O corpo se dobra e se contrai, como se buscasse escapar de si mesmo.
O chão torna-se parede, a parede torna-se horizonte.
A cada tentativa, ela se aproxima do limite — o abismo entre corpo e espaço.
O corpo cai sem se mover.
A gravidade é interna.
No abismo, o repouso é um grito contido.
Resta apenas o eco metálico do gesto — suspenso, inacabado.
Alma
No centro, uma escultura curva — um corpo sem corpo, apenas o gesto da matéria. Do chão, emergem pés sólidos, imóveis, como se tivessem permanecido após uma partida.
O resto — torso, rosto, voz — é ausência.
A luz é pálida, quase espiritual.
Não vem de uma única fonte, mas de todas as direções.
À medida que a cena avança, a luz pulsa levemente, como uma respiração.
Sombra e brilho alternam-se sobre a curva da escultura.
Um som distante de vento.
Depois, um murmúrio baixo, que se confunde com o próprio silêncio.
Quase se pode ouvir o som da matéria se expandindo.
Nada se move, mas tudo parece prestes a se mover.
A escultura respira — um sopro imperceptível percorre sua curva.
Os pés firmes no chão sugerem uma presença oculta, uma alma que ainda habita o espaço.
Num instante, a luz desce, e o contorno da escultura parece flutuar.
A curva oscila levemente, minimamente, como o eco de um corpo que já não está lá.
“Permaneço onde um dia estive. Meus pés tocam o chão, mas minha forma é vento. A alma é o intervalo entre o gesto e a ausência.”
Em seguida, escuridão total.
Miragem
A luz vibra como se o ar estivesse quente — há tremores sutis, distorções visuais.
No chão, uma poça rasa reflete o teto, mas o reflexo não coincide exatamente com a realidade: ele pulsa.
Um som distante, como vento sobre a areia.
Em seguida, vozes muito tênues — não se entende o que dizem, mas parecem evocar algo esquecido.
Do fundo, surge uma figura caminhando lentamente; a cada passo, sua imagem se duplica, se descola.
É como se houvesse duas presenças no mesmo corpo: uma ligeiramente atrasada, um eco visual.
A figura tenta tocar sua própria sombra — ou reflexo —, mas a imagem recua, depois se funde novamente.
Um feixe de luz crua irrompe do alto, atravessando a névoa.
Por um instante, tudo parece sólido: o chão, o corpo, o ar.
À medida que a figura se aproxima, a estrutura reflete sua imagem — uma paisagem que não está presente.
O reflexo é a miragem.
A figura tenta atravessar a estrutura, mas é repelida por uma resistência invisível.
Permanece imóvel, o rosto colado ao vidro.
Respira.
O sopro embaça a superfície, e na condensação surge uma marca — prova mínima de realidade.
A figura se afasta.
A paisagem refletida desaparece.
No chão, apenas a umidade escorre lentamente, formando uma pequena poça d’água.
O som cessa.
A miragem termina, mas algo — imperceptível — permanece.
Madeira garapeira, ferro forjado, tinta óleo e verniz impregnante
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106,5 x 36,5 x 4,5 cm
Madeira garapeira e cedro, ferro, ferro forjado, bronze polido, tinta óleo e verniz impregnante
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152,5 x 101 x 39,5 cm
Madeira garapeira, ferro forjado, bronze com pátina, tinta acrílica e verniz impregnante
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72 x 49 x 66 cm