Para Shigir
Maria Thereza Alves
Para Shigir
Quando teus criadores estavam aqui na terra,
nas primeiras horas da aurora, quando a mente flutua
livre das preocupações diárias,
como então sonharam contigo?
Alguns dizem que és um mito da criação. Auxílio de navegação ou mapa.
Ou aviso para não se aproximar. Ou talvez espírito da floresta.
Ou uma homenagem a deuses ou ancestrais.
Por muito tempo, acreditou-se — entre aqueles de nossas ciências — que teus criadores eram jovens demais na história do fazer humano para fazer arte.
É a velha história da tentativa europeia de negar a arte àqueles que estão fora de sua história clássica. Ou que não foram domesticadores de animais.
Mas não seria aquele desejo ardente de unir céu e terra por meio de um corpo de terra e céu?
De celebrar o fato de ser uma fronteira entre mundos?
Ou foram as novas florestas que surgiam ao redor de teus criadores
que os fizeram parar e querer tornar-se seres-árvore?
Hoje, já não podemos estar entre o céu e a terra com nossos corpos. Temos muito a remediar nas destruições que causamos a cada um deles.
E será que começar modestamente ajudará em algo?
