Para a primeira participação da Martins&Montero na ArPa, a galeria irá apresentar um diálogo entre os artistas João Loureiro e Hiram Latorre.
No projeto, reside o contraste entre a prática escultórica e conceitual de Loureiro e as pinturas de Latorre. Entre a o humor e a ironia, o objeto emerge como emblema no espaço físico e pictórico.
João Loureiro apresenta, no estande, um conjunto de duas esculturas e um grupo de desenhos. Grande parte do trabalho tridimensional do artista deriva do desenho, de um pensamento que se resolve a priori, bidimensionalmente — como imagem e projeção. Os trabalhos Mateiro e Agricultor são desdobramentos de estruturas lineares, concebidas em metal ou madeira, derivadas de um conjunto de figuras antropomorfizadas, algo violentas, apelidadas de “Monstros”. Os trabalhos partem do mesmo sistema construtivo: peças de vergalhão grosso, soldadas, com pintura automotiva preta coberta com verniz cristal, com tubérculos espetados em suas extremidades. Dissociadas de sua função real, tornam-se uma espécie de duplo independente, um diagrama de seu referente.
Os objetos presentes nas pinturas de Hiram Latorre não gritam, não se impõem — eles sussurram. Eles estão ali — jarras, vasos, ânforas, frutas e padrões — com a mesma firmeza e fragilidade com que a memória ocupa o espaço interno. Os vasos e frutas não estão simplesmente dispostos: eles habitam o espaço. A repetição de elementos — como as peras espalhadas ou os padrões de meia-lua — cria a memória das formas, carregada de história, mas não de uma narrativa específica. É uma história tátil, que se sente com o corpo antes de ser compreendida pela razão.