Com total autonomia e independência, Juraci Dórea (1944, Feira de Santana, Brasil) criou uma produção radical, atenta às tendências e debates contemporâneos, mas profunda e programaticamente enraizada na vida e na cultura sertanejas. Em uma de suas séries mais emblemáticas, os Estandartes do Jacuípe, iniciada em 1975, Dórea se apropria de técnicas de trabalho com o couro e de elementos decorativos usados em selas e trajes de vaqueiro, aqui sublimados em objetos desprovidos de utilidade ou praticidade. Alguns anos depois, em 1982, Dórea deu início a um projeto que assumiria contornos quase míticos: Projeto Terra, onde o couro é novamente empregado, mas desta vez em conjunto com galhos de árvores e outros elementos da paisagem, para criar esculturas a serem instaladas no sertão baiano. Um vídeo e fotografias são os únicos registros existentes dessas ações e obras. Nessa mesma época, além das pinturas sobre tela e placas da série Histórias do Sertão, Dórea criou uma série de intervenções com motivos semelhantes diretamente nas fachadas de casas de diferentes povoados. Assim, Dórea estabeleceu um inesperado diálogo com experiências internacionais como o movimento Land Art, ao qual seu trabalho tem sido associado, ao mesmo tempo em que reafirmou sua crença de que “o sertão é um grande museu”.

Jacopo Crivelli Visconti

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