Entrevero de mundos em ação de ver-se e escapar-se, como sabonete que foge sem fazer força, apenas o ato de tentar prender o outro, que por sua condição lisa e viscosa escorrega e salta para outro canto, como sons em uma feira pública que se sobressaem ou se abafam gerando juntos um ruído de vida. De nada adianta tentar juntar partes dissonantes, pois sua vibração alcança por si alturas concordiais em harmônicas divinas. A luta diária é entreverada de amor e sonho, um sonho acordado de aliança parental e profusão de visão na linha da trincheira. Fora do seu reinado, o hostil desavençoso mundo binário achata o que poderia, assim como nos sonhos de beleza e gratidão, ser o sagrado gozo de abundância de formas em suas infinitas perfeições. E, por isso, a presa esbarra no seu predador fazendo cócegas inocentes, mesmo quando na espreita os olhos agudos veem o criador esganado, o qual, de ponto em ponto ritmado, vai baixando a luz que revela a invenção de seu universo cativeiro.
A bicharada surge de todos os buracos, mina, como água no rego da mata, seus trajetos que marcam desenhos no chão, gravados por fluxo, aponta multi-versos estampados no papel ou tecido ou barro. Tudo natura naturaleza, tudo lembra a riqueza de formas da vida que produz vida, como brotos oriundos do mistério. E desse fundo espanto é que escapa também o dedo da morte, faceta de uma minoria que manda matar tudo que não for igual a eles, com suas artes exclusivas. Aqui Michel se horroriza, criando espinhos que repele este semelhante ignóbil que abusa dos seus de sua espécie e não se vê igual a toda criação. Tal ignóbil, que tem por característica se achar maior com seu poderio, gera exclusões e áreas áridas cheias de si mesmo e restritas cores. Apesar disso, Michel, com sua mão e com mais força ainda, mete mais fauna, mais flora, mais mineral aos planos que alisa e cheira, derrama e inunda a vida dos seus afetos. Não se aguenta parado, tudo relaciona e agrupa, quer morar ali dentro no mundo de onde vem a criação. Esbarra em mim, sabe que existem outros buracos de sol por onde escapam outros sabonetes cheirosos. Seus sentidos o deixam maluco e ele se esquiva, volta para casa novamente e de lá continua abrindo janelas mesmo que esconsas ou multidimensionais. Um sonho a mais de vida, porque mais um mundo inteiro cai sobre as superfícies psicogravadas pela mão-meio do olho-guia de Michel.
*Essa exposição conta com a colaboração das artistas Alessandra Giovanella na assistência da pintura Pavão Azul e Fernanda Gassen na autoria dos bordados.
TINTA ÓLEO, ACRÍLICA E NANQUIM EM PEDRAS E EPOXI
UNIQUE
DIMENSÕES VARIÁVEIS
LINHA DE SEDA E ALGODÃO SOBRE LINHO
UNIQUE
22 x 23 cm
TINTA ACRÍLICA EM CARPETE VERMELHO E BRONZE FUNDIDO PATINADO
19 x 160 x 160 cm
TINTA ACRÍLICA E NANQUIM SOBRE TELA E LÁPIS AQUARELÁVEL E NANQUIM EM MADEIRA CURUPIXÁ
UNIQUE
36 x 35 x 4 cm